terça-feira, 3 de julho de 2012

Um envelope para ser feliz



A menina tinha acabado de completar 18 anos, mas ao olhar para o passado a sensação era de estar com uns 70 e não ter aproveitado nada da vida. Claro que isso é fruto de um dos resquícios da adolescência: o mesmo jeito dramático de encarar uma espinha, a perda de um namorado ou doença na família. Sem se dar conta disso, foi inevitável mergulhar em comparações com a melhor amiga, a irmã, a mãe, a pior inimiga e até o cachorrinho de estimação. Já carregava desde sempre a sensação de inferioridade por nunca ter feito uma bela viagem, nunca ter namorado, nunca ter ido a uma festa de casamento nem ao teatro. Eram muitos nuncas na cabeça. E naquela altura da vida, não tão alta quanto parecia para ela, precisava fazer alguma coisa para poder se sentir como se fosse alguém como os outros.

Abriu a gaveta da mesinha do computador e encontrou um envelope pardo e uma folha de papel ofício. Decidiu que a partir daquele momento ia sair em busca do novo e registrar cada nova conquista, cada passo até se tornar uma pessoa normal. Foi anotando no papel o primeiro Milk shake, a abertura de uma conta em banco, a compra de um depilador elétrico. Guardou o papel no envelope e para cada anotação tratava de colocar junto uma prova. Valia o ingresso do cinema, uma nota fiscal da comida tailandesa, a pazinha de um sorvete diferente. Era uma forma de arquivar dados objetivos que comprovassem que a menina não estava simplesmente deixando a vida passar. Algum lugar para visitar quando achasse que nunca tinha sido feliz. Passou a correr atrás de tudo o que via pela frente simplesmente para sentir o alívio de encher o envelope. E de tanto fazer isso passou a não ter mais tempo para conferir as anotações. Esqueceu de verificar com regularidade se estava sendo feliz.