Tudo começou com um “Tudo bem”. A mentirosa frase dita e repetida tantas vezes a ponto de convencer muita gente de que era verdadeira. Só não conseguiu se mostrar da mesma maneira para quem pronunciava aquelas palavras. A menina nunca acreditou embora passasse a vida dizendo e dizendo de novo. E como mentira tem perna curta, essa daí tropeçou na primeira pedra mais gordinha que encontrou pela frente. De forma inexplicável, nada aconteceu com os joelhos da mentira, até porque a garota é que foi ao chão. Os dela sim é que ficaram ralados. E como demorou até aparecer alguém para colocar Merthiolate, soprar as feridas e fazer carinho dizendo que tudo iria passar. Com os joelhos já cicatrizados, ela se deu conta de que, com a queda, o estômago também havia se ferido de uma maneira bem profunda. Nem sopro nem carinho iam dar jeito.
Quando não havia mais nenhuma maneira de disfarçar a dor, encontrou um desconhecido vestido de branco e com um objeto, meio parecido a uma corda, pendurado no pescoço. O rapaz tratou de dizer que para as coisas melhorarem ela deveria querer muito e se esforçar. De imediato ela não entendeu nada. Parecia obvio demais que a garota queria consertar o estômago, mas a coitada não fazia ideia sobre esse papo de esforço. Será que ele estava falando de ficar sem comer batata frita, bacon e sorvete? Tomar xarope com gosto ruim ou chá de boldo? Levantar peso? Percorrer grandes distâncias? Nada disso. Depois de meses ela entendeu que os maiores desafios dessa vida não estão em suportar grandes desconfortos, mas em mudar pequenas coisas. Elas exigem atenção demais aos detalhes, a força de se assumir fraco e a coragem para jogar fora aquilo que, aparentemente, não deseja perder. Parece que a menina está indo bem. De vez em quando ela ainda tropeça, mas logo dá um jeito de limpar a roupa e levantar como se nada tivesse acontecido. Em seguida, inevitavelmente acha graça e segue rindo por ai.