quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um corpo cansado


Depois de um dia inteiro o cansaço tenta convencer o corpo a tomar um banho e dormir. E como ele é convincente! Mas a cabeça está cheia o bastante para não escutar os argumentos. Lá dentro os pensamentos pulam de um lado para o outro: os problemas brincam de empurrar as boas idéias para longe do foco de atenção e alguns planos tentam se aproveitar disso para saltar e fazer a festa. Com tanta agitação aquela menina sabe exatamente o que fazer: sair e caminhar. Muita gente faz isso para jogar fora as calorias de um chocolate, ver gente e até mesmo paquerar. Mas ela não. É trocar de roupa, colocar um par de tênis e pegar o MP3 para ir de encontro a aquele momento único.

No início, o corpo reclama de fazer mais esse esforço em um dia que teve direito a problemas no trabalho, engarrafamento e discussão com um amigo. Só que no fim das contas entende que a cabeça está precisando, então acaba agüentando firme e até se divertindo. A menina vai andando e escutando aquela boa e velha seleção com as músicas favoritas. Os passos vão inevitavelmente seguindo o ritmo de cada canção, ao mesmo tempo, o vento bate no rosto para aliviar o calor e cada pensamento se prepara para uma bela coreografia. Dúvidas, idéias, planos e outros pensamentos vão se enfileirando em uma dança rumo à ordem de prioridade. Quando tudo está bem é hora de ser justa também com o corpo. A cabeça está livre para escutar o que o cansaço diz.  É só voltar para casa tomar um banho e sonhar.    

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Apenas um vestido


Era como se fosse o primeiro. Não se tratava exatamente do primeiro porque uma menina de 20 e poucos anos na certa já usou vários vestidos. Acontece que aquele tinha um sabor especial. Se é que roupa pode ter algum gosto. O que tornava aquele pedaço de pano tão maravilhoso não era o preço. Aliás, custou mais barato do que se possa imaginar. O vestido daquela menina também não era elegante como aqueles alinhados no tapete vermelho antes da entrega do Oscar. Definitivamente não. Nem passou pelas mãos de algum grande estilista.

Foi uma costureira simples de sorriso amável que cortou, juntou e costurou cada pedaço de pano para deixar ele pronto. O que torna esse vestido tão especial é que se trata da materialização de um sonho, literalmente. A menina sonhou com um vestido daquele jeito e não se contentou até desenhar em um papel de rascunho para transformá-lo em realidade. A escolha do tecido demorou tempo já que era preciso encontrar a textura e a cor vistas durante o sono numa madrugada de terça-feira. Na hora de experimentar, a satisfação só não superou aquela sentida durante o primeiro passeio com ele. Ela andava pelas ruas com uma felicidade escancarada e, na certa, quem não sabia da história olhava e pensava: “Coitada! Deve ser doida...”     

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ela já aprendeu faz tempo


Ela simplesmente acredita. Até quando não parece racional fazer isso. Não é um objeto, um amuleto ou ela mesma que são capazes de manter essa certeza. A menina acha que a vida pode ser boa mesmo com TPM, com o salário que perde o fôlego antes de terminar o percurso até o dia 31 e com aqueles caras que... Você já sabe. Boa parte é mais ou menos igual em qualquer canto do mundo.  Enfim, deixa pra lá. O telefone toca e a voz não é a esperada, mas a garota sempre acredita que haverá uma próxima vez. Em outros casos, dá um suspiro quase silencioso e deixa a tristeza chegar e se abrigar por uns instantes. Poucos, é claro. O suficiente para que entenda qual é o seu devido lugar: bem longe dalí.

Depois de se despedir da intrusa tudo volta ao normal. Daí a menina continua acreditando que existe gente boa no mundo. Mesmo que apareça, de vez em quando, alguém disposto a tentar “enfeiar” a vida, principalmente a dos outros. Se no meio do trabalho surge um problema grande ela se preocupa bem de leve, porque é só uma questão de tempo pra tudo ficar bem. E independente do que for vai ser assim mesmo. Apesar de jovem, ela já aprendeu faz tempo como tudo funciona. Alguém que ela nunca viu, mas já sentiu várias vezes por perto é a garantia. Acho que isso se chama Fé. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Faxina


Ela largou tudo. Um bom passeio, um filme bacana e uma tarde de compras. Preferiu ficar em casa fazendo faxina. E olha que isso não era programa de mulher deprimida no auge da TPM ou de uma triste garota depois do fim de namoro. Ela queria mesmo organizar, limpar e, principalmente, jogar coisas no lixo. Foi só abrir o armário e começar a festa. Para agradar a moça começaram a surgir papéis que não tinham a menor importância. Ah e como é bom rasgar papel. E embolar também, é claro. Para garantir a satisfação essas duas ações eram combinadas com o gosto de quem escolhe roupas pra sair. Um dia calça Jeans e camiseta básica, no outro vestido e salto alto. Primeiro embolar os papéis mais fininhos e depois rasgar os mais grossos.

E por falar em roupas, elas também não escaparam, embora tenham melhor sorte que os antigos estratos de banco e cartas para serem esquecidas. Separadas por cor, modelo e estilo tomaram o rumo em direção a uma grande sacola. Numa próxima oportunidade, poderão ir para as mãos de outra pessoa que vai olhá-las com ar de novidade enquanto planeja sair para aproveitar a vida. Livros novamente enfileirados, móveis lustrados e vassoura percorrendo todo o chão indicavam o fim da faxina. A garota observava tudo limpo enquanto sentia o corpo pesado pelo cansaço, mas a alma leve, muito leve. Não era só o quarto que havia ficado em ordem.    

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Subindo a ladeira


Quando era mais nova, tipo com uns 12 anos, além de ganhar outra Barbie, patins e uma bicicleta ela sempre quis uma coisa. Uma coisa que quase toda menina tinha e que na certa seria muito útil. Não, não era um sutiã. Na verdade, ela queria uma amiga de verdade. Como aquelas de filmes adolescentes que escutam tudo, guardam os segredos mais íntimos (ou pelo menos te convencem que estão guardando) e ajudam a escolher roupas pra você encontrar aquele garoto que nunca te chamará para sair. Os anos foram passando e o desejo de ganhar uma amiga dessas de presente se mantinha. Outras preocupações com o trabalho para entregar na semana seguinte e os problemas no emprego não roubavam o espaço daquele objetivo que dependia mais da vida do que de esforço e planejamento feitos pela menina.

E ela foi encontrar o que precisava do jeito mais estranho: no meio da rua subindo uma ladeira em uma cidade desconhecida. Um dia de trabalho intenso com refeições feitas em um longo espaço de tempo. Uma colega de trabalho, durante um simples bate papo, fez uma pergunta pessoal, dessas que aquela garota passou a vida inteira se desviando para não responder. Parecia que a menina tinha deixado de ser tímida por um segundo e a resposta veio como se tivesse saído da boca de alguém que não tem medo de se abrir. Espantada com a própria reação ela ainda tentou voltar ao normal, mas a confiança já estava ali. Ela logo pensou: “Ah, quer dizer que você que é a minha amiga?! Que bom que apareceu!”     

Quando ela escreve


Às vezes ela não sabe bem o motivo, mas escreve. Quando está triste derrama sobre o papel, ou melhor, em cima do documento de Word, tudo que fica agarrado na garganta. Transforma em letras, pontos, vírgulas e até em aspas tudo o que aconteceu há tanto tempo que outras pessoas nem lembrariam mais. Ou não veriam como problemas. Ela não é uma menina rancorosa. Só tem memória boa. E nesse desespero do desabafo ainda sente como é estranho pensar em uma coisa e sentir que a idéia vai caminhando no trajeto entre a cabeça e a tela do computador se modificando. Crescendo, diminuindo, querendo se recolher no esquecimento ou expandir. O fato é que como começa é inevitavelmente distinto de como termina.

No meio da alegria ela também escreve. Tenta deixar tudo com uma linda decoração e mostrar a beleza até no que não é tão agradável assim. Mas parece que nos bons e maus momentos o ritual é praticamente o mesmo. As idéias começam a espetar dentro da cabeça chamando a atenção e pedindo desesperadamente para sair. Ela não deixa que saiam de imediato. Trata cada uma como se fosse uma filha pequena que deve receber banho, ter os cabelos penteados, vestir o uniforme e ser alimentada antes ir para a escola: terra onde ninguém escapa do julgamento dos outros. Quando ela escreve, tudo vai caindo no papel como plumas. Chegando lá, cada coisa recebe enfeites como árvore de natal, polimento daqueles de carro comprado na véspera e perfume de casa nova. Basta ler o que ela escreve e respirar bem fundo que dá pra sentir o cheiro. Garanto que dá.     

sábado, 15 de janeiro de 2011

Do que um click é capaz


Um equipamento que não deixa as coisas morrerem. Pelo menos é isso que aquela máquina fotográfica faz com as flores do jardim, bombardeadas pelo tempo, pelo vento e a chuva. Capaz de fazer aquela menina tão simples, de cabelo preso com um jeito bem desajeitado, roupas de ficar em casa e chinelo de dedo se sentir com super poderes. É só enquadrar e apertar um botão. Ai toda aquela beleza das plantas fica refugiada do esquecimento e pode ser vista até enjoar. Como se fosse possível enjoar... Aquele aparelho mágico foi adquirido com certa demora e resistência. Não apenas porque era caro e precisou de um tempo para juntar a grana, mas comprar coisas pela internet sempre causou arrepios. Era como pagar por alguma coisa com a quase certeza de estar caindo voluntariamente em um golpe.

Depois de tomar coragem para fazer o negócio era esperar pelos tais 3 dias para a entrega. Entrega essa que foi feita a um vizinho, já que na hora exata nada de ter alguém em casa. A garota abriu o pacote com um ar de surpresa como se não soubesse que o tinha lá dentro. Bom, ela até sabia. Só não imaginava o bem que aquele objeto de 10 mega pixels e zoom óptico de 15 vezes ia fazer. Assim como uma criança ela tratou de colocar pilhas e faz o brinquedo funcionar. O cachorro, a casa, as plantas, os amigos e, é claro, às vezes o trabalho. À noite, de dia, pouca luz, a luz do sol, as texturas. De perto, de longe, de frente e de costas.   Cada coisinha do cotidiano virava novidade e merecia ser fotografada nas suas inúmeras possibilidades. Aos poucos ela ia descobrindo e se vendo de outra maneira. Guardando do esquecimento o que aparecia pela vida. 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Número 36


Uma sapatilha rosa. Número 36. Ela que sempre tava mais pra jogar bola do que pra dançar ballet foi sentir uma alegria incrível com um sapato desses. Um prazer que só consegue imaginar quem entrou numa loja e, do nada, encontrou o objeto que só poderia ter sido feito para ele. O motivo pra tanta satisfação também vinha daquele encontro não ser premeditado. Ela não saiu de casa para comprar sapato. Eles simplesmente se encontraram. Tudo aconteceu porque a melhor amiga dela, como toda pessoa normal naquela idade, tinha um namorado e ia sair com ele no sábado. As opções estavam ali, claras: passar a tarde na internet, dormir, ler um livro ou sair. Sair sem saber pra onde, sozinha. Normalmente, ir pra fora de casa seria a ultima coisa a se pensar. Mas naquele dia a alternativa sempre desprezada foi acolhida com certo entusiasmo. Depois de separar o vestido favorito, a sandália quase esquecida e a bolsa, é hora de ir.

Sem muitos planos na cabeça, ou melhor, nenhum, acabou indo parar no cinema. O lugar criado quase que para se ir exclusivamente acompanhado virou o refúgio de quem estava só. E como é bom colocar a bolsa no banco do lado pra garantir que um casal não vai ficar ali por perto. Na tela grande, a história da mulher com mais de 40 anos*, o dobro da idade daquela garota, que começava a refazer a vida após um divórcio. Depois Dalí, a menina é conduzida como que por uma nuvem para um caminho que ela não planejou. Na loja de sapatos algo estava à espera. A volta para casa foi mais leve. Mais pelo filme do que pelo sapato talvez. O que importa era o que a menina percebeu quando as luzes se acenderam. Não precisava esperar 20 anos pra mudar o rumo das coisas, seguir e encontrar mais um sapato feito só pra ela. 

   
*O filme nacional que a garota assistiu é “Divã” com a atriz Lilia Cabral. 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Janelas abertas


São muitas janelas abertas. E por cada uma delas não passa nem um ventinho para aliviar o calor. Só passam palavras. Ela tinha muito trabalho pra fazer e como sempre ficava durante a noite em frente ao computador. Entre um arquivo e outro, quem puxa papo pelo MSN contribui para espantar o sono e dependendo pode até dar uma idéia mais criativa. O problema é que o que se espera de uma conversa pela internet nunca é uma ajuda no trabalho. O que pega é se a resposta demora mais que o esperado e quando ela finalmente chega é apenas um “hã” ou um “sim”. Ou pior, um não. Se bem que resposta nenhuma serve nesses casos. Se alguém não faz aparecer aquele retângulo laranja na sua tela pode ser simplesmente pra bancar o difícil ou por falta de interesse mesmo. Quem vai saber?

O que se passa do outro lado é tão imprevisível que a coisa mais louca é tentar imaginar. E ela, assim como todo mundo que conversa pela internet, já cansou de fazer isso. “Ele provavelmente ainda não me chamou porque está procurando o melhor assunto para render uma conversa.” Ou então se você faz um comentário e o retorno não é imediato, a cabeça logo pensa: “deve estar no banheiro”, “tocaram a campainha”, “foi buscar um copo de água”. E quando ele diz “Legal”? Essa palavra nunca foi capaz de carregar tantos significados. Pode ser um legal mais ou menos legal, um legal legalzinho acompanhado de um sorriso amarelo que você nunca vai ver. Ou mesmo um legal do tipo: “O que eu falo agora, hein? Vou escrever a palavra legal mesmo”. E depois quanta expectativa por nada. Nada mesmo. A graça passa, o tempo passa, a vontade passa. No fim das contas, seria melhor que daquelas janelas passasse mesmo vento. Alivia o calor e na pior das hipóteses vai jogar umas folhas de papel no chão. E bagunçar um pouco o cabelo.   

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Relaxar é difícil

Depois de 10 anos de trabalho, 15 dias de férias. Mais de duas semanas muito bem aproveitadas em um verdadeiro paraíso: praias do nordeste, dias ensolarados e nada de compromisso. Pena que ela não sabia como lidar com isso. Para qualquer pessoa normal, se bem que uma pessoa que não tira férias há 10 anos não é bem um modelo de pessoa normal, isso seria a glória. E para ela também foi. Só que de um jeito diferente. É meio loucura, mas às vezes é bom ter as coisas sob controle e a forma mais fácil de fazer isso é criar uma rotina de trabalho e alimentar a pobrezinha até ficar bem robusta. Forte o bastante para você não conseguir mover do lugar. A viagem era o guindaste capaz de mover a mesmice, ou pelo menos suspender pra fora do chão por um tempo. E a preocupação agora é arrumar coisas pra colocar naquele espaço temporariamente vazio.

Passagens compradas, diárias reservadas. Metade da viagem em um hotel e o restante em uma bela pousada. A possibilidade de ficar longe dos e-mails, assuntos de trabalho e outras preocupações era inicialmente uma grande satisfação que com o passar dos dias virava uma tarefa com certa dificuldade. A ordem era, quando passar em frente a algum computador, virar para o outro lado e mentalizar coisas boas para afastar a tentação de checar o e-mail uma vez que seja. Apenas um indício de que a garota não sabia mais como relaxar. No restaurante em frente à praia, a espera para o almoço já provoca aquela balançadinha irritante da perna, como se aguardasse para pagar uma conta no banco ou chegar ao caixa do supermercado.

A lentidão com que as pessoas caminham pelo mercado da cidade também irrita, mas no meio disso tudo ela vai aos poucos pegando o jeito. Respira fundo enquanto passa um tempo vendo o mar, olha para o horizonte durante o passeio de barco sem pressa para chegar a terra. O silencio só é interrompido pelo barulho das ondas ou de algum pássaro belo e educado a ponto de parar perto da cabeça de alguém sem se achar no direito de cagar em cima. Os 15 dias se vão e é hora de abraçar a rotina carinhosamente. A garota sente que ainda não aprendeu a se desligar das coisas, mas pretende fazer outras tentativas até virar especialista no assunto. E que as próximas sejam como esta.      

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bicicleta sem rodas

30 minutos de bicicleta. Dependendo da animação a velocidade pode chegar aos 23 quilômetros por hora e nesse tempinho percorrer uns 10 quilômetros com folga. Como aquela moça não queria mesmo ficar mais magra, o quadradinho da ergométrica que marca as calorias gastas só é percebido no final. 360 delas foram mandadas embora. Às vezes mais outras menos. Tá ... ela queria ficar magra sim, mas nem foi por isso que ela começou a pedalar. Pelo menos não só por isso. Do nada, ela também pode brincar de reduzir bastante a velocidade para, em seguida, levar até o limite das forças.  A garota metódica que faz esse mesmo exercício todo dia no mesmo horário parece cansada dessa vez. Não de pedalar, mas de ficar pedalando. Parece que a hora não passa e ficar olhando o cronômetro não adianta em nada.

A menina consegue controlar quase tudo ali: mudar a velocidade, controlar as calorias que se perdem, mas nada muda o jeito do cronômetro. Um segundo por vez ele vai como quer. E sempre quer ir da mesma maneira. Pra passar a ansiedade várias tentativas. Olhar pela janela não parece a mais eficiente delas já que o ritmo da chuva é tão homogêneo como o do relógio. A ausência de música só agrava a situação junto com a preguiça de sair do aparelho por uns instantes para solucionar o problema. E também parar o exercício e começar de novo atrapalharia o ritual. Será que pedalar de olhos fechados ajuda? Basta abrir os olhos depois pra ver que não. Só se passaram 3 míseros minutos. Não é muito útil, mas pelo menos é uma das possibilidades que a ergométrica oferece. Uma bicicleta sem rodas é um meio de transporte que não transporta pra lugar nenhum, mas pelo menos não exige freios e permite parar de ver as coisas ao redor por uns instantes sem ter que abrir os olhos, em seguida, e dar de cara com um muro, uma árvore ou um carrinho de bebê.   

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

DO TRABALHO PRA CASA

“Ela gosta é de qualquer um que goste dela”. Foi essa a frase. Seguida de risos e gargalhadas. Mais gargalhadas do que risos, na verdade. Uma besteira dita por um menino num grupinho de adolescentes no ponto de ônibus em frente ao shopping. Eles estavam falando, provavelmente, de alguma garota do colégio logo depois de saírem do cinema. Papinho besta mesmo. Mas a moça que tinha acabado de sair do trabalho e ido, sabe Deus porque, pegar ônibus em um local diferente daquele de todos os dias achou que aquilo era pra ela. A moça ficou pensando naquela frase por muito tempo. Até deu uma olhada para ver se reconhecia naqueles garotos os meninos que, há uns 10 anos, eram ao mesmo tempo um desafio para a auto-estima dela e o grupo que guardava entre eles o sonho distante: aquele menino. Bom... de fato a frase insistia em não ir embora. Ficava ali na cabeça se misturando com a preocupação pelo dia de trabalho difícil e junto do medo de que a chuva estragasse a chapinha feita no dia anterior. Estava entre os pensamentos porque teoricamente não tinha nada de tão assombroso como parecia entre os garotos espinhentos. Naquela altura da vida, não tão alta assim, já dava pra entender que o que complica mesmo é gostar de quem não gosta ou não gostar de quem gosta. E é claro ficar na chuva esperando um ônibus que não chega nunca. Mais uma coisa nessa vida que não chega nunca.

Pontapé inicial

Eu tava sem nada pra fazer e resolvi fazer um blog. Mentira. Já estive com um tempo meio ocioso antes e preferi fazer as unhas, arrumar o cabelo, ler um livro, ficar de bobeira na internet, dormir, ver novela... Já deu pra perceber que o que não falta na minha cabeça é coisa pra exorcizar aquelas horas que tão ali de bobeira, né?! Eu acho que pensei inicialmente em fazer um blog pra poder desabafar e economizar a grana gasta com uma psicóloga. Mas ai eu lembrei que não dava pra sair contando coisas íntimas da minha vida na internet porque corria o risco de algum desafeto ler e ficar contente quando rolasse de falar da parte ruim das coisas. Também deu uma vergonha danada de imaginar as pessoas descobrindo o quanto eu sou realmente esquisita ou os segredos absurdos que eu guardo. De qualquer forma, para resolver o caso era só escrever textos de ficção que essas questões estariam resolvidas. Então está resolvido. A partir de agora vou usar esse espaço para escrever umas coisas ai que aparecerem na minha cabeça. Vencida a preguiça inicial, finalmente tá ai o primeiro texto.