sábado, 29 de setembro de 2012

Roubando o lugar do não



Ela acabou descobrindo com o tempo que as coisas na vida, por mais complicadas que sejam, acabam convergindo para uma pergunta com apenas duas possibilidades de resposta: sim e não. E para passar pelo mundo fugindo dos olhares de reprovação, elegeu o “sim” quase que como resposta única. Rejeitar um presente, um pedido de ajuda ou uma ordem seria o caminho mais curto para que a garota tão estranha  vivesse ainda mais sozinha. A menina foi desde pequena se orientando para não desagradar quem quer que seja. Talvez essa seria a chave para a completa aceitação. Talvez fazer os trabalhos da escola para aquele colega mais preguiçoso, ficar acordada até tarde para revisar os textos de um vizinho ou emprestar o CD favorito, mesmo sabendo que ele dificilmente voltaria, fossem boas estratégias. Afinal, quem seria capaz de não tratar bem uma pessoa sempre prestativa? 

Foi assim que aprendeu a sufocar o “não” mesmo quando ele estava por lá para garantir que a menina seria respeitada. Como essa lógica não tinha nada a ver com a lógica da vida, por sinal sem lógica nenhuma, só poderia dar errado. Estava correta mesmo era a lei da física de que toda ação produz uma reação de mesma força com sentido contrário. Enquanto o “sim” roubava o espaço que deveria ser do “não”, e o contrário também acontecia, o respeito pela vontade dos outros provocava o desrespeito, em igual medida, ao que fazia bem à garota. Tudo por escolher o destino  diferente do que se quer fazer. Agora ela deve ter entendido, mas infelizmente a distância entre saber e agir continua sendo longa.