segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Para sentir um arrepio



Estava frio, mas ela só conseguiu sentir calor. Alguns podem pensar que era porque havia caminhado muito e subido grande quantidade de ladeiras. Mas não era só isso. Não era simples assim. Um pouco de atividade física não disfarçaria as sensações provocadas pelos 15°C e 2.400 metros de altitude. O que talvez fazia a menina se sentir aquecida era uma espécie de estado de choque, não provocado por um trauma, mas gerado por uma alegria esquisita. Ao terminar o percurso, ela se sentia leve não pelo gasto de calorias. Deixou coisas para trás que carregava sem saber, sem se lembrar. Algo infinitamente mais pesado que as gordurinhas do churrasco de fim de semana e bem mais compactas também. 

Lá em cima, a menina via uma grande cidade antiga. Nunca invadida por nenhum conquistador, por mais esperto que fosse.  Onde não se viu derramamento de sangue mesmo quando abandonada pelos seus habitantes. Construída com o cuidado dedicado ao que pretendia ser um pedacinho do céu bem longe das nuvens, talvez não tão distante assim. Lugar preservado com um orgulho perfeitamente justificado por tamanha beleza. Talvez, por isso, a garota sentiu um arrepio na pele que não era sinal de frio. Parecia uma onda de calor que envolvia a alma e depois apertava de maneira forte e acolhedora. Um tipo de alegria com status de felicidade.  Pena que pra quem sobe sempre resta no destino a volta pra baixo.