terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Número 36


Uma sapatilha rosa. Número 36. Ela que sempre tava mais pra jogar bola do que pra dançar ballet foi sentir uma alegria incrível com um sapato desses. Um prazer que só consegue imaginar quem entrou numa loja e, do nada, encontrou o objeto que só poderia ter sido feito para ele. O motivo pra tanta satisfação também vinha daquele encontro não ser premeditado. Ela não saiu de casa para comprar sapato. Eles simplesmente se encontraram. Tudo aconteceu porque a melhor amiga dela, como toda pessoa normal naquela idade, tinha um namorado e ia sair com ele no sábado. As opções estavam ali, claras: passar a tarde na internet, dormir, ler um livro ou sair. Sair sem saber pra onde, sozinha. Normalmente, ir pra fora de casa seria a ultima coisa a se pensar. Mas naquele dia a alternativa sempre desprezada foi acolhida com certo entusiasmo. Depois de separar o vestido favorito, a sandália quase esquecida e a bolsa, é hora de ir.

Sem muitos planos na cabeça, ou melhor, nenhum, acabou indo parar no cinema. O lugar criado quase que para se ir exclusivamente acompanhado virou o refúgio de quem estava só. E como é bom colocar a bolsa no banco do lado pra garantir que um casal não vai ficar ali por perto. Na tela grande, a história da mulher com mais de 40 anos*, o dobro da idade daquela garota, que começava a refazer a vida após um divórcio. Depois Dalí, a menina é conduzida como que por uma nuvem para um caminho que ela não planejou. Na loja de sapatos algo estava à espera. A volta para casa foi mais leve. Mais pelo filme do que pelo sapato talvez. O que importa era o que a menina percebeu quando as luzes se acenderam. Não precisava esperar 20 anos pra mudar o rumo das coisas, seguir e encontrar mais um sapato feito só pra ela. 

   
*O filme nacional que a garota assistiu é “Divã” com a atriz Lilia Cabral. 

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