quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Relaxar é difícil

Depois de 10 anos de trabalho, 15 dias de férias. Mais de duas semanas muito bem aproveitadas em um verdadeiro paraíso: praias do nordeste, dias ensolarados e nada de compromisso. Pena que ela não sabia como lidar com isso. Para qualquer pessoa normal, se bem que uma pessoa que não tira férias há 10 anos não é bem um modelo de pessoa normal, isso seria a glória. E para ela também foi. Só que de um jeito diferente. É meio loucura, mas às vezes é bom ter as coisas sob controle e a forma mais fácil de fazer isso é criar uma rotina de trabalho e alimentar a pobrezinha até ficar bem robusta. Forte o bastante para você não conseguir mover do lugar. A viagem era o guindaste capaz de mover a mesmice, ou pelo menos suspender pra fora do chão por um tempo. E a preocupação agora é arrumar coisas pra colocar naquele espaço temporariamente vazio.

Passagens compradas, diárias reservadas. Metade da viagem em um hotel e o restante em uma bela pousada. A possibilidade de ficar longe dos e-mails, assuntos de trabalho e outras preocupações era inicialmente uma grande satisfação que com o passar dos dias virava uma tarefa com certa dificuldade. A ordem era, quando passar em frente a algum computador, virar para o outro lado e mentalizar coisas boas para afastar a tentação de checar o e-mail uma vez que seja. Apenas um indício de que a garota não sabia mais como relaxar. No restaurante em frente à praia, a espera para o almoço já provoca aquela balançadinha irritante da perna, como se aguardasse para pagar uma conta no banco ou chegar ao caixa do supermercado.

A lentidão com que as pessoas caminham pelo mercado da cidade também irrita, mas no meio disso tudo ela vai aos poucos pegando o jeito. Respira fundo enquanto passa um tempo vendo o mar, olha para o horizonte durante o passeio de barco sem pressa para chegar a terra. O silencio só é interrompido pelo barulho das ondas ou de algum pássaro belo e educado a ponto de parar perto da cabeça de alguém sem se achar no direito de cagar em cima. Os 15 dias se vão e é hora de abraçar a rotina carinhosamente. A garota sente que ainda não aprendeu a se desligar das coisas, mas pretende fazer outras tentativas até virar especialista no assunto. E que as próximas sejam como esta.      

3 comentários:

  1. Muito bom este texto. Nunca vivi tanta calmaria, que chegue a ser entediante. Afinal, minha família tem SEIS pessoas e a gente sempre viaja junto.
    Só que entendo muito bem esta questão de ter q se segurar pra não entrar na internet e ler emails...
    Parabéns pelo texto!

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  2. Exceletne texto O_o

    Gostei da forma como é abordado o apego á rotina que realmente mutias vezes mão conseguimso nos livrar facilmente, mesmo em tempos mais calmos que não necessitamos dela.

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  3. Ah obrigada. Rotina já virou sinônimo de coisa que ninguém gosta, mas parece que é um pedacinho que ajuda a orientar as coisas...

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