sábado, 3 de dezembro de 2011

Quando virou joaninha


Uma capa vermelha com bolinhas pretas. Na cabeça, um cabelo muito bem preso com o apoio técnico de um gel desses que deixam os fios grudados como gêmeas siamesas. Para completar, um arco com duas anteninhas, colant preto e sapatilha. Era uma fantasia de joaninha para o baile de carnaval da escola. A menina tinha naquela época seus sete anos, e estava feliz com a roupa apesar do medo da reação dos outros. Depois de uma conversa com a mãe, sempre habilidosa na arte do convencimento, a garotinha tomou coragem para sair de casa. Um vizinho logo elogiou, dizendo que estava bonita. Ela ficou com vergonha, mas o comentário ajudou a impulsionar os passos lentos, medrosos e com vontade de nunca chegar, até a porta da escola. Entre piratas, bailarinas e fantasias que ela nunca entendeu do que se tratavam, surgiu a joaninha. Ficou quietinha ao lado da irmã que só esperava a abertura do portão para ir embora. De repente, a menina percebeu alguns dedos apontados em sua direção. Uns acompanhados de risadas e outro, em especial, carregava consigo uma gargalhada cruel e o comentário que nunca foi esquecido: “Parece o Chapolin Colorado!”. 

A reação foi imediata. Provavelmente uma pessoa nunca se encolheu tão rápido quanto ela. Ficou ali bem pequena, bem diminuída, quase do tamanho de uma joaninha de verdade. Só que joaninhas não choram, muito menos pedem à irmã, desesperadamente, para levá-la correndo pra casa. Com o pedido atendido, foi para o quarto gastar todas as lágrimas que tinha direito. O colo de mãe e os argumentos de sempre convenceram a menina a voltar para a festa. Só que já não adiantava mais. Não seria como antes. Quem voltou para a escola não foi a joaninha, era apenas uma menina de camiseta rosa, bermuda jeans e olhar triste. A condição para sair do quarto não poderia ser outra, jogar de lado a fantasia. No meio de palhaços, mágicos e florzinhas, voavam confete e serpentina por todos os lados. Até mesmo no canto onde a menina se refugiava. Só que por lá eles chegavam e perdiam a cor imediatamente. Enquanto isso, ela aprendia que não seria nunca mais uma joaninha. 

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