quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Quando é possível deletar



Ela escreveu. Olhou para os lados, parou, pensou e deletou. Letra por letra foi sendo jogada fora. Nem mesmo as vírgulas, exclamações e, principalmente, tantas interrogações foram poupadas. Pensou mais um pouco e, dessa vez, tentou libertar os dedos de certos radicalismos e voltou a digitar as frases, agora em versão melhorada. Novamente faltou coragem para pegar o mouse e levar a setinha até a opção “publicar”. O que poderia haver de errado com aquelas frases? Gramaticalmente estavam impecáveis. Ainda mais depois de serem construídas e reconstruídas com o olhar cada vez mais atento. A menina entendeu que o problema era o que ela pensava, queria e precisava dizer. Ela que sempre se preocupou em construir aquela imagem de garota tranqüila, quietinha e bem comportada acabou virando vitima de um trabalho de anos, juntando tijolo por tijolo. 

Lá estava ela em frente ao computador, com o perfil do Facebook aberto. E tudo pra que? Algo estava dentro da cabeça dela dançando macarena, pulando corda, fazendo cosquinhas, mas a menina não poderia colocar para fora ali daquela forma. Era confuso querer tornar o bendito texto público e ao mesmo tempo preferir que ele ficasse escondido. Tão bem guardado que ninguém nunca pudesse imaginar que aquilo tinha visitado a cabeça da menina. O que poderiam entender depois de olhar para aquelas letras? Como interpretariam a vírgula cuidadosamente deslocada para fazer companhia a certo adjetivo? Talvez ninguém daria importância ou aqueles caracteres mudariam para sempre a maneira como a garota era vista. Afinal de contas, na internet tudo vem carregado com o poder da eternidade e a magia de se espalhar quase como poeira no vento. A menina nunca saberá como poderia ter sido. O botão “publicar’ permaneceu intocado e os caracteres foram deletados. Dessa vez, para sempre. 

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