quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O menino e a menina


Ela resolveu sair de casa com unhas coloridas. Uma combinação de três cores que faziam um efeito degradê. Fez achando que ninguém iria perceber, afinal, quem que fica reparando nas unhas dos outros? Mas ele percebeu. Enquanto levava um copo de refrigerante da mesa até a boca, escutou o menino dizer: “Suas unhas são bem diferentes”. A garota logo pensou que ele tinha achado ridículo e foi logo perguntando se o menino quis dizer que estavam estranhas. Ele disse que não. E depois de um sorriso falou que ela tinha mãos lindas. Quem que fica reparando a mão dos outros, gente? Tímida com o elogio, ela começou a observar as próprias mãos discretamente, os dedos compridos a pequena cicatriz do dia em que estava fritando batatas em casa e o pedacinho de cutícula não removido pela manicure. Meio que num susto, sentiu uma mão quentinha se aproximar e se juntar às dela. 

Ficaram as três mãos apoiadas na mesa do bar enquanto o garoto puxava papo com assuntos que iam perfeitamente se cruzando. Parecia tudo parte de um roteiro muito bem construído já que eles se entendiam tão bem e as risadas eram quase simultâneas. O tempo foi passando e eles não perceberam. Nem se deram conta de que as outras pessoas da mesa se afastaram. A garota ficou ainda mais vermelha quando descobriu isso. Tomou coragem para levantar a cabeça e encontrou dois olhos muito bonitos. Não eram das cores que costumam atrair a atenção dos outros, mas de um castanho escuro bem simples como um monte de coisas boas que existem na vida. E foi justamente bondade que ela viu misturada nos tons de castanho que só eram percebidos por quem prestasse muita atenção. Um degradê de castanhos. Se achando invasiva demais por ficar olhando tanto tempo para ele, abaixou a cabeça novamente e disse que precisava ir, afinal já era tarde. Mas não tarde o bastante para que o garoto segurasse a mão dela e dissesse: “Então vamos”.  

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