sábado, 2 de abril de 2011

Dentro de uma caixa feia


De repente. Quando a menina já tinha desistido, algo que foi desejado por tanto tempo aconteceu. Chegou em uma caixa de papelão. Era uma caixa feia na verdade, dessas de algum eletro doméstico ou das de supermercado só que toda furadinha. Sem um embrulhozinho ou laço vermelho. Ah e como aquela menina sempre gostou de um embrulho de presente. Ficava olhando pra deixar na memória a lembrança de algo novo que estava por vir, mas ainda permanecia escondido pelo papel cheio de cores. Ela achava bonito desembrulhar com cuidado para não estragar nem presente nem embalagem e, ao mesmo tempo, sentir o perfume da novidade. Sempre o mesmo ritual. Só que o cheiro da caixa em questão não tinha nada de agradável. Pelo menos não do ponto de vista da maioria. Era uma mistura de cocô e xixi feitos em instantes de medo e ansiedade além de um pêlo branco muito sujo. 
É que lá na caixa estava uma pequena cachorrinha de 3 meses saindo de um espaço tão apertado para ver a nova casa pela primeira vez. Um mundo que seria daquele bichinho por muitos anos e que ele iria ajudar a transformar destruindo móveis seminovos, desenhando no chão com patas sujas de terra e distribuindo afeto com jeito desajeitado e olhar inocente. Aquele maravilhoso presente era entregue para a menina de um modo diferente do normal. Ela que estava acostumada a receber as coisas boas da vida sempre mais ou menos da mesma maneira sentia algo estranhamente bom. As surpresas poderiam ser mais surpreendentes do que antes. O cheiro da pequena cadelinha parecia melhor que o de muito perfume caro. E dessa vez a embalagem foi rapidamente jogada de lado rumo ao lixo. O presente roubava todas as atenções.     

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