domingo, 4 de setembro de 2011

O que fazer com o tempo



Ela tem sono, mas dorme pouco. Isso não é culpa das preocupações, embora sejam muitas.  Há seis meses atrás, os problemas eram quase os mesmos e ela dormia o dia praticamente todo. A garota foge do sono, não por causa de pesadelos, até porque na hora de colocar a cabeça no travesseiro sabe bem separar fantasia da realidade. Pelo menos nesses momentos a menina sabe. Foge do sono porque precisa. Acontece que para ficar bem ela inventou uma estratégia maluca: ocupar todo o tempo. Dessa forma, não sobra espaço na agenda para escrever certas tarefas como sofrer, chorar, lembrar. Trabalho, trabalho extra, aula, aula extra, leitura, leitura extra. Tudo o que já era muito, ganhou um extra. E no meio de tudo ainda aparecem aquelas coisas não programadas, ou seja, extras já na essência. A menina está exausta. Fica um pouco tonta quando chegam às 21h, mesmo que esteja na rua. Já esqueceu momentaneamente o número do apartamento da irmã duas vezes. E olha que a garota vai até lá pelo menos um dia na semana.

Vive correndo. Não sabe como é ir andando para pegar o ônibus faz tempo. Vai depressa para o banheiro também, mesmo que não esteja com tanta vontade assim. A pressa para o almoço existe mesmo que não haja fome. A irritação com o tamanho da fila que não anda ficou ainda maior. O engarrafamento, sempre grande, tomou uma proporção gigantesca que só ela vê. Tudo é vontade de fazer o tempo passar, de querer gastar cada minuto, de preferência com urgência. A menina usa truques para acelerar os minutos, tenta enganar as horas, mas é sempre ela a fazer papel de boba nessa história. O tempo já percebeu essas artimanhas e, talvez por isso, continua irredutível. Segue como quer. Pode ser que um dia quando a menina entender o porquê da ansiedade ele resolva cooperar. Só que quando isso acontecer, a menina não vai mais precisar dessa ajuda. O tempo da menina e o tempo do tempo serão um só.           

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