segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Hoje tem palhaçada!



Depois de crescida, ela resolveu ir ao circo. Um passeio desses que toda criança fez ao menos uma vez na vida. Toda criança, menos aquela garota. Os anos se passaram e ela ficou acostumada a ouvir falar que no circo tinha elefante, leão, gente cuspindo fogo e engolindo espada. Viu pela televisão como eram os palhaços e, para ser bem honesta, nunca entendeu porque as pessoas riam deles. Sapatos enormes, cabelos bagunçados, roupas coloridas, cara pintada e nariz vermelho. O que que isso tem de engraçado? A garotinha virou uma jovem e a duvida persistiu. Passou a ter pena daqueles que precisavam se vestir de palhaço para ganhar a vida enquanto as pessoas retribuíam com risadas constrangidas, afinal, era preciso achar graça. Sentia desprezo dos tantos palhaços que recebiam esse título sem precisarem de fantasia, apenas cruzando a vida das pessoas sentindo o prazer de fazer pequenos estragos enquanto os outros sofriam porque era o que se poderia fazer.  

Talvez o único encanto circense capaz de despertar a atenção da menina fosse a leveza dos artistas com poderes de mover o corpo para onde quisessem e sem o menor problema. Se para alguns pode parecer nojento colocar o calcanhar na nuca, para ela isso é mais mágico do que tirar coelho de cartola. É a possibilidade de ter controle sobre si mesmo no sentido mais amplo. E como seria belo caber dentro de uma mala quando a maior vontade na vida é se refugiar dos problemas e se sentir protegida. Quase tão bom quanto isso seria disfarçar uma queda ou um tropeço dando cambalhotas sem morrer de dor na coluna depois. A menina gostaria de fazer tudo isso e até tenta, mas antes é preciso ganhar elasticidade. Coisa que ela só vai conquistar quando aprender a ser flexível consigo mesma. As duas coisas andam lado a lado. Vai ver é por isso que tem tão pouca gente capaz de colocar o calcanhar na nuca quantas vezes for preciso e sem cara de sofrimento. Tem coisa que é difícil demais...     

Nenhum comentário:

Postar um comentário