domingo, 4 de março de 2012

Tá olhando o que?



Uma casinha antiga no centro da cidade. Lá dentro, pessoas que a garota nunca havia visto. Depois de tirar os sapatos, lá estava ela caminhando com uma leveza imposta de quem se sentia na obrigação de não fazer barulho. Mesmo sem motivo. As conversas também se mostravam contidas enquanto os pés deixavam cada degrau para trás rumo ao segundo andar. Logo já se encontrava em uma nova sala onde os iniciantes no centro de meditação se encaminham. A curiosidade, como de costume, era tanta que fazia cócegas na capacidade de concentração. Por isso que a menina não conseguia parar de observar a textura macia do tapete tão bem bordado que dava vontade de ter um igual em casa. As portas que se fechavam sem interromper o silêncio tentavam disfarçar a idade e desgaste das dobradiças. Os exercícios de relaxamento começaram após uma explicação teórica que, embora tenha sido breve, a ansiedade fez parecer uma palestra de três horas.

E ao começar as atividades, o que deveria ser o foco de concentração não conseguiu atingir sua meta. Bem na frente da sala uma mulher emoldurada com detalhes em amarelo olhava diretamente para o fundo dos olhos de quem dirigisse o olhar a ela. Ao redor daquela imagem grande, tecidos vermelhos e rendas cor de ouro. Entre as flores entregues de presente a aquela fotografia um pequeno foco de fogo que iluminava toda a sala e não demonstrava intenção de se apagar. A ideia era olhar para a mulher enquanto a cabeça ia jogando os pensamentos no lixo. E quem disse que a menina conseguiu focar a atenção naquela senhora? Seria inevitável não ficar imaginando como teria sido a vida daquela pessoa. E era estranho o olhar fixo que parecia tentar adivinhar o que estava na cabeça de cada um. Enfim, a garota não encontrou sentido no que era tão significativo para as pessoas daquele lugar. Mas parece que observando o caminho dos outros a menina consegue ir identificando qual é o dela. Mesmo que eles sejam diferentes.

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