domingo, 15 de abril de 2012

Alegria dos outros



Ela sentou no ônibus e inevitavelmente se aproveitou para ler as notícias do jornal do senhor que estava ao lado. Ele virou a página, começou a ler algumas piadas sobre sogras, portugueses e nordestinos e não parou de gargalhar. Ria com a naturalidade de quem acha algo realmente engraçado e seguiu dessa maneira até o momento de descer. Já a garota estava triste e não teve como não sentir inveja daquela alegria momentânea e tão pura. Ela até se permitiu exibir suas tristezas em forma de lágrimas que logo se encarregaram de ficar escuras. Culpa de quem acha que comprar lápis de olho a prova d’água é bobagem. E quando lembrou que havia se maquiado foi logo secar as lágrimas, mas a magoa de dentro tratou de enfeiar a beleza produzida do lado de fora.

Estava mal pelo cansaço de noites mal dormidas, muito trabalho, textos para ler e pelas más notícias que sempre veem embaladas como se fossem bons presentes. Pensou em como as coisas boas se tornam ruins e o contrário também. (No segundo caso, muito de vez em quando, mas fazer o que?) Mas o gosto salgado das lágrimas ajudaram a lembrar o mar e as últimas férias. Tentou pensar em coisas boas para ver se passava, mas não foi muito eficiente. Resolveu escutar música para ignorar o engarrafamento e afastar a melancolia. Às vezes isso funciona. Não deu certo, mas valeu a tentativa. O dia seria assim mesmo, mas com o tempo tudo resolve. Naquela hora, surgiu um problema mais urgente. Se deu conta da maquiagem borrada. Como se livrar da cara de urso panda no meio da rua? 

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