sexta-feira, 6 de maio de 2011

A menina e a felicidade


Ela era a terceira na fila pra comprar pão de queijo. Logo à frente, as suas duas amigas aguardavam enquanto um senhor trocava a bobina do caixa para atender aos clientes ansiosos pelo café da manhã. Como em toda fila, não teve jeito de escapar da velha estratégia utilizada para matar o tempo: conversar. Naquele dia, ela nem queria isso. Seria bom apenas esperar quieta. Mas do meio da conversa, na qual nem estava prestando muita atenção, saiu uma pergunta direcionada a ela: “Você é feliz?”. Ela, assim como qualquer pessoa normal, pensou imediatamente como era estranho alguém fazer esse tipo de pergunta numa fila às 8h da manhã. Só não pensou muito foi na hora de responder. Disse de forma triste, quieta e ao mesmo tempo educada que não. E ainda completou que não acreditava nessas coisas. Definitivamente percebeu que tinha feito algo errado. Aquela resposta provocou um silêncio estranho como se tivesse dito que estava grávida, ou era lésbica, ou usava drogas ou tudo isso junto. Parecia coisa meio proibida ou polêmica assumir em lugar público que você não é feliz. 

Na verdade, o que acontece é que a felicidade não estava ali fazendo companhia para a menina naquele momento. E a garota já sabia que ninguém consegue ficar colado a essa doce palavra de 10 letras o tempo todo, carregando pra casa, pro trabalho, pra festa e muito menos para o trânsito. A vida foi mostrando que felicidade é ocupada demais e não consegue ser a fiel dama de companhia em período integral. Ela aparece quando você é convidada para sair e vai embora quando a companhia te decepciona. Chega de repente quando você encontra um vestido lindo na vitrine, mas pede licença no instante em que as leis da física provam que ele não cabe em você. Surge como uma criança travessa na hora que te acorda de manhã depois de um sonho bom e, um tempo depois, vai procurar um brinquedo novo quando você encontra aquela pessoa desagradável. Envolve qualquer um que pode admirar a beleza de um pôr do sol e se desfaz quando o expediente dele acaba para começar o horário de trabalho da noite. Naquela manhã, enquanto esperava um pão de queijo, ela não queria dizer que era infeliz. Só entendia que a felicidade se parece com o vento: quando chega traz com ela coisas boas e vai embora. Na hora certa, lá está ela voltando. 

4 comentários:

  1. Gostei muito do texto Deza, ele passa uma sensação um pouco pessimista, em minha opinião. Inclusive no texto a visão que ela nos vem a hora que deseja é fantástica, mas bem realista até. Me faz pensar o que é a felicidade para mim. Suas palavras como sempre me envolvem.

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  2. Ai que bom que gostou do texto. Fico muito feliz. Inicialmente a idéia é mostrar que não dá pra ser feliz o tempo todo, mas que sempre dá pra voltar a ser feliz.

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  3. Que liiiiiindo! Adorei o texto, amiga! Realmente, assumir q não se é feliz causa mto desconforto nos outros. Mas é impossível estar feliz o tempo todo. Faz parte, né? Saudades de vc!

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  4. Saudades super amiga. Realmente não dá pra ser feliz sempre, mas quando a felicidade tentar escapar a gente tenta pegar ela pelo pé. heheheh

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