quinta-feira, 19 de maio de 2011

Resgatando o que era bom


Ela torceu para chover, a chave sumir, a luz acabar ou simplesmente o professor não chegar. Não é que a menina não gostasse das aulas de dança, mas naquele dia queria mesmo sumir dali. O motivo era que com o passar do tempo foi percebendo que ninguém daquele lugar cultivava mais o entusiasmo dos primeiros dias de aprendizado. Apenas ela. Naquele dia a ficha caiu: as coisas não seriam mais como antes. A turma toda reunida e a chegada do professor indicavam a impossibilidade de escapar. Olhares de desânimo, gestos de má vontade e desculpas esfarrapadas estavam por toda parte. E como era triste o momento de encarar os exercícios em dupla. Ela cheia de alegria e empolgação batia de cara no muro construído pelo colega que queria apenas ver o tempo passar. E de preferência bem rápido. Daquele jeito, a tristeza se sentiu a vontade para chegar trazendo pelo braço o cansaço, a ansiedade e decepção. Como aquele encontro semanal, inicialmente tão esperado e agradável para todos, virou uma mera obrigação?

Às 13h15 tudo havia terminado. Enquanto tomava banho para se livrar do suor e tentar mandar pelo ralo os sentimentos ruins daquele dia, foi inevitável lembrar os bons momentos naqueles primeiros encontros com os colegas. Dava uma vontade de voltar no tempo e ao mesmo tempo de não retornar ao passado. Apenas ver ele se repetindo quando se sentisse fraca diante do desânimo alheio. E como seria fantástico poder reviver sensações boas que já foram embora. A menina faria isso várias e várias vezes como as pessoas que assistem um filme até decorar as falas dos personagens. Sentiria novamente o gosto de desembrulhar a caixa da boneca favorita, ganhada no natal, cada vez que a vida lhe presenteasse com uma nova decepção. Escutaria a voz do namorado dizendo, pela primeira vez, “eu te amo” todas as vezes que ele estivesse distante, não apenas fisicamente. Reviveria os elogios dados pelo chefe sempre que entregassem a ela um grande desafio. Seria a forma ideal de deixar a saudade dos instantes felizes puxar os sentimentos ruins e seguir para longe. Porque a água do chuveiro, coitada, só dá conta mesmo de livrar a menina do suor.

2 comentários:

  1. Mutas vezes tiramso fotos para eternizar momentos, maso melhro mesmo seria revivê-los, mesmo que de modo passivo.

    Muito bom o texto, continue escrevendo, vc me inspira com sues textos envolventes =)

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  2. Você também está sempre servindo de inspiração pra mim com suas idéias e seus incentivos. Fotos são realmente muito especiais pra guardar recordações. E ultimamente os momentos em que estou fotografando tem sido mais do que especiais.

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