quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mensagem de texto


Pelo terceiro dia seguinte. Ela pegou o ônibus no mesmo horário e sentou no mesmo banco. Logo ao lado, estava também a mesma pessoa: um desconhecido. Ele com a mochila no colo, celular na mão e o ombro encostado na janela. Usava o aparelho uma hora para mandar mensagens, que a propósito eram longas, e outra hora pra escutar música. Ela sabia que os recados eram grandes porque observava toda a cena. Só não conseguiu ver o que estava escrito em cada uma delas porque observava discretamente demais. Dessa forma, só restava imaginar quem as receberia. Talvez uma namorada, o melhor amigo, um colega de trabalho ou a mãe. Claro que não era a mãe, né?! Afinal de contas quem você conhece que fica mandando mensagens longas pra avisar pra mamãe que comeu direitinho, está agasalhado e quase chegando em casa? A música também não deu pra ver qual era. 

O garoto escutava de forma baixa, discreta. Sem dar batidinhas nem com o pé nem com as mãos. Pela reação, talvez não fosse nenhum Rock desses pesados e a menina torcia para também não ser pagode, funk ou axé. Ela tirou um livro da bolsa e, de imediato, aquele desconhecido olhou para ver o que a menina estava lendo. A garota ficou sem graça já que tinha nas mãos apenas mais um desses livros de auto-ajuda que o pessoal escreve para as mulheres aprenderem a se defender dos homens. Umas acreditam que tudo naquelas páginas é verdade, embora nunca coloquem em prática. Outras vêem o conteúdo como algo meio humorístico. A menina seria um meio termo entre esses dois grupos de mulheres. Depois de um tempinho cansou da leitura e resolveu continuar observando. Ele já não estava mais com a blusa de frio verde musgo. Retirou enquanto ela se distraia com o livro e a menina nem percebeu o menor movimento. A viagem chega ao fim para ele, que dá o sinal e percebe a estranha ao lado abrindo caminho enquanto o garoto abre a boca para dizer com a voz grossa e bonita um “obrigado”. Tudo ali muito discreto a ponto de não passar batido. E ainda tem gente que acha que a simplicidade não chama atenção. 

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