domingo, 22 de janeiro de 2012

Quando ele vai embora



Ela descobriu a grande vantagem do horário de verão. Aliás, a única. Que supera a dificuldade em acordar cedo e a sensação de que o dia passa rápido demais. É a possibilidade de sair do trabalho e ver um restinho de sol no final do dia. Se bem que nem é o restinho do sol, é o melhor do sol, o pôr do sol. A garota passou a vida inteira fascinada com esse momento, quando os raios vão ficando mais leves, de outras tonalidades e se escondendo entre nuvens, árvores e montanhas. Em cada viagem ou num simples passeio ela não se continha até guardar aquele momento só para ela, tirando uma foto. Tudo porque ele tem aquela beleza meio melancólica de mais um dia que se foi. Das coisas boas que ao anoitecer já se tornam passado e daquelas que não aconteceram e ficarão na lista de sonhos não realizados.

O pôr do sol ainda carrega a paz de um silêncio bom e a vontade de ficar olhando sem pensar em nada e pensando em tudo ao mesmo tempo. Certo dia, ele trouxe para a menina um presente maravilhoso, aguardado por anos, e que foi despedaçado em um meio de tarde de sol forte. O fim de tarde também lembra tomar sorvete vestida de short e camiseta sem pressa de chegar em casa. A garota admira tanto o poder do pôr do sol que já se permitiu ficar olhando para ele em cima de um viaduto sem se preocupar com assaltantes, carros desgovernados e pessoas malucas. Ele tem a pureza e a elegância de quem chega na hora certa, sabe o tempo exato de ficar e vai embora deixando claro que não é um abandono. Sempre volta.        

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