segunda-feira, 9 de junho de 2014

Descompasso


De uma hora pra outra, o garoto virou caranguejo. Não que se trata-se de um personagem daqueles do Realismo Fantástico. Apenas decidiu, metaforicamente, não andar mais para frente, optando pelos movimentos laterais. Vulgo, sair pela tangente. O desejo era caminhar definitivamente para trás, mas faltou coragem. O motivo: a menina que o acompanhava naquele curto percurso só queria ver o que existia adiante. Com a demora em ser avisada, ambos protagonizaram uma dança que até os mais bêbados fariam de modo menos desajeitado. Ela para frente e ele para o lado. E não haveria tecnologia da Nasa, iguarias italianas ou poção mágica para mudar a trajetória de cada um. 

Entre palavras rebuscadas e grandes delongas o menino parou e decidiu fazer o que realmente queria. Foi honesto? Será que foi honesto? Apenas uma imposição das circunstâncias. Vai ver estava tonto com o descompasso que ele mesmo criou. Dá trabalho seguir adiante. A menina até se submetia a andar em círculos eventualmente, mas para trás nunca. Questão de princípios. Desde então, foi convidada a dançar sozinha, o que parece difícil só que permite reinventar os passos e errar sem se sentir ridícula. Basta disfarçar fingindo que criou uma coreografia nova. Pra completar, ainda dá pra fugir da dependência de quem não sabe dançar.  

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