sexta-feira, 20 de junho de 2014

Para mais ou para menos


O barulhinho da chapa quando a concha despeja o líquido que em breve será promovido a massa. Um pouco de leite, outro tanto de farinha e um algo mais que a menina não sabe o que é. Nem faz ideia, mas isso não importa. Com um instrumento metálico e movimentos que parecem displicentes e ao mesmo tempo cheios de alguma técnica simples, já treinada exaustivamente, ele ganha forma. Ah, o crepe. Aquela senhora de gorro branco na cabeça pensa inocentemente que está apenas fazendo o trabalho de todo dia, um crepe seguido de outro, enquanto sonha com o bendito fim do mês. Como subestima o seu ganha-pão!   

A menina vê outra coisa. Esperou por aquele momento durante três dias. Imaginou com ansiedade a hora de sentir o gosto daquela receita feita assim, tão rápido. E pôde apreciar, praticamente de camarote, cada segundinho da trajetória da massa, das fartas colheres de creme de avelã que envolviam as rodelas de morango como em um abraço carinhoso formando o recheio. “É para comer aqui ou para levar?” A senhora de gorro branco na cabeça precisa saber. Do prato para a boca, o sabor se perdeu. Não era nem de longe como o esperado. Pode ser culpa da expectativa ou o crepe ficou um tempinho a mais ou a menos no fogo. As vezes a espera é mesmo muito melhor. A menina bem sabe.

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