sábado, 22 de outubro de 2011

É preciso complicar?


“Luiz, quer dizer que você não vai não? Então aproveite sua sexta-feira!” Foi com voz irritada que a mulher disse as duas frases e desligou o celular. Já com seus 30 anos, estava ela maquiada e com roupa bonita parecendo preparada para um encontro especial. Encontro esse que não aconteceria mais. A mulher havia marcado, com o tal Luiz, namorado dela, de se verem em frente ao ponto de ônibus e, quando ela já estava se preparando para descer, descobriu que ele não iria mais. Tentou passar certa tranqüilidade, mas não conseguiu. Respirou fundo, enxugou uma lágrima que borrou o delineador e telefonou novamente fingindo que a ligação havia apenas caído. Essa desculpa parece não ter funcionado de início já que ela teve que repetir algumas vezes: ”Se eu tivesse desligado na sua cara não teria ligado de novo. A ligação caiu”. Depois de insistir várias vezes que ele poderia fazer o que quisesse e que isso não estragaria o fim de semana dela, desligou o telefone. Dizendo antes que deixaria o celular ligado, caso ele quisesse telefonar. Ela não se moveu do banco do ônibus onde estava. Seguiu de cabeça baixa de volta para casa.

A menina acompanhou toda a cena de perto. Entrou no coletivo pouco antes de tudo acontecer e estava feliz diante da possibilidade de ir para casa descansar depois de um dia de trabalho. Para ela e para a mulher, chegar em casa carregava significados muito distintos: a vitória e a derrota. A mulher, tão bonita e arrumada, acabava de jogar na lata do lixo horas de preparação e expectativas. E o golpe vinha justamente de quem deveria dar carinho: o namorado. A menina estava despenteada e mal arrumada após um dia corrido com trabalhos e compromissos. Cansada como nunca e com os pensamentos agitados. Era confuso ver uma mulher sendo mal tratada pelo companheiro e se resignando com a possibilidade de voltar para casa triste enquanto ele provavelmente se divertia e estava alegre. Era estranho ver a ligação sendo encerrada com uma espécie de pedido disfarçado para que o tal Luiz ligasse, uma vez que seja, no fim de semana. Ele não é namorado dela? Por que não ligar? Por que não sair? Por que não se importar? A garota preferiu não pensar mais no assunto, pegou o mp3 para se distrair. Tem coisa que é tão simples que o povo complica pra ver se dá conta.

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