quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O revólver e a bolsa


Estava cedo, dia claro, pessoas indo para o almoço ou voltando pro trabalho. Ela andando na rua com o estômago mais do que cheio, efeito de um sanduiche, batatas fritas e um copo de 500 ml de refrigerante. Nas mãos, um embrulho para dar de presente a alguém muito especial. Um pacote leve, mas de muita importância, embora não custasse nenhuma fortuna. Perto de uma banca de jornal, uma mulher e um homem surgem bem na frente da garota. A mulher chama o cara de vagabundo e empurra a bolsa em cima dele. A menina pensa logo se tratar de uma briga de namorados e segue no mesmo ritmo enquanto se dá conta de que entre aqueles dois não havia nenhum relacionamento de intimidade. A bolsa só era entregue porque nas mãos de quem a recebia estava um revólver. Em poucos segundos, o homem sobe na garupa de uma moto com os dois objetos na mão e simultaneamente ele e a mulher tomam caminhos distintos. 

Ele precisa apenas esperar até que a moto se dirija a um lugar seguro e o roubo terá êxito. A mulher se apressa em pedir emprestado, a um estranho, o celular para chamar a polícia. Enquanto tudo acontecia, a menina acompanhava cada movimento de perto. Não que ela tivesse feito essa escolha, mas a situação estava bem ali de forma tão inacreditável que a única reação possível foi a naturalidade. Continuou andando até chegar ao seu destino, agora acompanhada de pensamentos que ela não previa e não conseguia mandar embora. Não gritou, não desmaiou. As mãos só conseguiram ficar trêmulas bem longe dali. Ela pensava na mulher que agora estava na rua sozinha com a sensação de perda, já que não veria mais a bolsa. Ah, e como perder dói. Mesmo que a bolsa fosse velha e não tivesse nada de valioso lá dentro. Mesmo que a polícia recuperasse o objeto algum tempo depois. Não ter mais o que se tinha antes, a bolsa, a calma, a sensação de segurança. Ah, e como perder dói... 

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