domingo, 9 de outubro de 2011

A menina e o livro


Dois trabalhados da faculdade para entregar, um livro inteiro para resumir, estudar inglês e espanhol para as provas do curso. A menina tinha tantas obrigações que não sabia por onde começar. E como de costume estava cansada. Cansada de tudo. Cansada de um tanto... Não que trabalhar e estudar, ao mesmo tempo, seja a coisa mais grandiosa do mundo, afinal, tantas pessoas conseguem conciliar isso e ainda arrumam tempo para criar filhos ou montar uma banda. Mas fazer as duas coisas se torna realmente algo grandioso e, principalmente, complicado quando quem inventa de fazer isso é você e não um amigo, vizinho ou conhecido. A garota finalmente se deu conta disso. Está próxima de mais uma sexta-feira e com tudo brilhantemente arquitetado. Sábado, após a aula, começaria efetivamente o fim de semana e poderia usar o período da tarde para iniciar um dos trabalhos. O resumo ficaria para a manhã de domingo e a tarde seria dedicada ao estudo de idiomas. Durante a noite, mais um tempinho para organizar a vida acadêmica, limpar gavetas, lavar roupas. 

Tudo planejado tão certinho que tinha mesmo que dar errado. A tristeza e o desânimo, somados ao convite da irmã para sair, fizeram a menina se dar conta de que a agenda não incluía nada escrito sobre descanso. Muito menos lazer. Já estava tão acostumada a deixar essas coisas fora da lista que precisou se sentir mal, mas muito mesmo, para cair a ficha. Também encontrou na mesa do quarto o livro que ganhou de aniversário. Aquele que depois de ser desembrulhado fez os olhos da menina brilharem, mas após três semanas ainda não tinha recebido a chance de ter ao menos uma página lida. Após a tarde de sábado, no cinema, ela resolveu chegar em casa, ignorar todos os planos e ler o livro querido. Ele certamente não cairia em nenhuma prova e dessa vez isso não importava. Era a chance de se desprender um pouco do previsível, justamente porque a vida é assim. As coisas podem não ser como o esperado, aliás, elas geralmente não são. Mesmo.

2 comentários:

  1. houve uma época em q eu saia para trabalhar as 6h, depois ia direto pra faculdade. qdo saia às 22h ia no ônibus pensando na janta. às 23h eu chegava em casa, jogava arroz na panela, abria a torneira, enchia no olho, tacava sal e enquanto cozinhava o arroz era o tempo de eu tomar meu banho. tudo ordenado e sincronizado

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  2. E como faz falta poder fazer as coisas de um jeito diferente, né?! Comer o arroz mais cedo, dormir um pouco mais, poder mudar as coisas...

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