terça-feira, 21 de junho de 2011

Das cores das flores


Uma flor caída no chão. Meio murcha, parecendo talvez que acabou de ser arrancada da árvore por uma criança que logo se cansou da brincadeira e deixou ali perto do meio fio. Tinha um monte de pétalas, embora algumas tivessem sido já arrancadas. Se alguém brincou de “Bem me quer, mal me quer” com ela, se cansou logo de início. Ou porque passou a não acreditar nessas coisas, de repente, ou porque percebeu que tirar pétala por pétala seria uma forma meio demorada para descobrir se era amada por alguém. Tudo bem que tem gente que passa a vida inteira atrás dessa resposta (o que é muito mais tempo), mas ai é outra história. A tal flor foi apanhada do chão por uma menina que passava distraída pela rua, mas não o suficiente para deixar aquele objeto vermelho tão vivo ficar ali despercebido. A garota se lembrou de quando viu, pela primeira vez, um bouquet de flores entrar em casa. Por coincidência eram da mesma cor da que ela tinha agora nas mãos. Foi um presente que a irmã havia ganhado do namorado. Naquela época, as crianças da escola brincavam de classificar os sentimentos das pessoas de acordo com as cores das flores que davam de presente. As brancas serviam para entregar ás mães, avós ou alguma tia querida. As rosas rosas normalmente eram para amores delicados como namoros de pouco tempo ou para alguma pretendente. E vermelhas só mesmo em caso de paixão misturada com amor. 

A menina ficou pensando se aquela flor teria sido dada de presente a alguém e jogada fora depois da descoberta de uma traição. Ou largada após um pedido de desculpas não aceito. Será que ela fazia parte de um conjunto com outras flores, envolvidas por um papel bonito e um laço de fita bem grande? Ou seria dessas solitárias que saíram de alguma floricultura daquele jeito e, assim como algumas pessoas na vida, parecem ter nascido com o destino de não ter acompanhamento? Resolveu guardar a flor dentro de um bloquinho de anotações guardado dentro da bolsa. Não queria dar ao objeto o caminho da lixeira mais próxima. Cada pétala ficaria guardada quase que para sempre. O perfume mudaria e não haveria mais o tom fresco de uma flor recém colhida. Mas a essência estaria ali armazenada. Mesmo a garota não tendo o menor conhecimento da real história da flor morta que permanecia viva de alguma forma.  

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