quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sem energia


Ela precisou fazer hora extra no trabalho, mas o que irritou não foi sair mais tarde. O negócio era o motivo: falta de energia elétrica. Sem computador e sem telefone por 3 horas, as tarefas se acumularam e infelizmente não dava pra deixar pro dia seguinte. Na saída, a chuva que tinha dado uma aliviada ficou mais forte e levou embora a chapinha feita no dia anterior. O guarda-chuva foi moldado pelo vento e primeiro ganhou forma de taça para depois se tornar apenas um guarda chuva quebrado. Os papéis, que a menina levava pra casa com a intenção de continuar o velho ritual de adiantar as tarefas no ambiente familiar, de tão molhados começaram a se desmanchar. Finalmente o ônibus chegou e a chuva parou. No trajeto, ou o trânsito ficava completamente parado ou o veículo acelerava em meio a ruas quase completamente escuras. Quando aparecia uma luzinha ela só servia pra revelar postes caídos, árvores em cima de carros e objetos carregados pelo vento. Chegou a hora de descer do ônibus. Luz a menina só viu do farol dos carros. Com tudo escuro, os três quarteirões percorridos todos os dias até o seu lar nunca se tornaram tão grandes. 

O chaveiro nas mãos com a chave já preparada para se unir à fechadura, os passos apressados e o tremor provocado pelo frio misturado com medo acompanharam a moça no caminho. Em casa, pensou em ligar o computador, assistir um pouco de TV, ouvir uma musiquinha e antes de tudo isso tomar um belo banho bem quente. Acabou frustrada indo procurar uma vela. De repente, a menina escuta um barulhinho chato e se dá conta de que a bateria do celular tinha acabado. Em um gesto automático, colocou o carregador na tomada e logo depois começou a rir de si mesma. Pelo menos o bom humor não tinha ido embora junto com a energia. O jeito era tentar usar o telefone fixo para xingar as atendentes da CEMIG. Como ele também não estava funcionando o negócio foi passar a noite sem brigar com ninguém. Fez a refeição à luz de velas em um clima nada romântico já que nem dava pra ver direito o que tinha no prato nem tinha uma boa companhia por perto. Solucionado o problema da fome era hora de descobrir se precisaria usar novamente o fogão. No impasse entre tomar um banho gelado de chuveiro no escuro ou utilizar um balde com água quente para se banhar no escuro, ela preferiu a segunda opção. Aqueceu a água, tomou banho, sentiu frio, foi dormir. O livro de cabeceira ficou intocado coitado.            

4 comentários:

  1. Ninguém merece um dia sem luz mesmo.
    Adorei o texto, muito intrigante a velha sensação de se banhar com água quente esquentada no fogo.

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  2. Obrigada. Realmente a energia elétrica é uma das forças invisíveis que controlam a vida da gente. hehe

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  3. Olá anônimo. Mesmo sem saber quem você é, fico grata por ter lido meu texto. Obrigada.

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